Médica sobre homeopatia: Em uma infecção, dou antibiótico; mas trato também a pessoa


Uma das poucas profissionais que trabalham com homeopatia na AfroSaúde, a médica Maria Helena Siebeneichler iniciou sua carreira na área da saúde com foco em Pediatria. Sua trajetória, marcada por uma paixão pela saúde mental, a levou por um caminho repleto de desafios e conquistas.

Formada pela Universidade Unirio, ela atuou por 10 anos como pediatra, atendendo crianças em um município da Bahia. Maria Helena sentiu a necessidade de aprofundar seus conhecimentos na área da psiquiatria e, apesar de não ter sido aprovada na primeira tentativa, ela persistiu, concluiu uma pós-graduação em Neurologia e fez residência no Hospital Juliano Moreira em Salvador. Com a bagagem carregada, voltou para Curitiba para dedicar-se à psiquiatria.

Experiente em pediatria e com vivência em neurologia, Maria Helena decidiu complementar sua formação com a homeopatia, desta vez com foco específico em saúde mental. Além disso, a médica também é formada em mindfulness para psiquiatria, uma técnica que promove a atenção plena e o bem-estar.

“A saúde mental sempre foi uma área que me fascinou”, afirma Maria Helena. “Acredito que a combinação da homeopatia, da psiquiatria e do mindfulness pode oferecer um tratamento mais completo e individualizado para os meus pacientes”, acrescenta.

Em um bate-papo com o blog da AfroSaúde, ela explica como a homeopatia pode contribuir no cuidado com a saúde mental e desmistifica alguns estereótipos sobre essa abordagem. Confira!


Existe muito desconhecimento sobre a homeopatia e sua ação em nossa saúde. O que você pode nos explicar sobre essa abordagem?

Então, vamos começar pelo conceito de saúde doença. Saúde e doença, pela homeopatia, é uma questão de desequilíbrio do corpo como um todo. Então, existem três doenças na homeopatia: o excesso, que é a psicose; a destruição, que é a sífilis; e a desorganização que é a psore. São 3 doenças fundamentais da homeopatia. Os autores contemporâneos já subdividiram isso em 10 doenças, eu vou falar aqui só das três, e o desequilíbrio dessas três doenças fundamentais é que gera os sintomas clínicos, né? A homeopatia começa por uma classificação diferenciada. Quando a gente vê uma por exemplo uma infecção de garganta, coisa mais básica que tem na vida. Você olha a garganta. Se ela está extremamente vermelha, sem pus ela é uma manifestação psórica. Claro, existe uma bactéria ali, e a gente vai tratar.

A gente tem que tratar o desequilíbrio físico que permitiu que você desenvolvesse aquela doença. É uma abordagem que olha o ser humano que está sujeito às alterações ambientais, basicamente isso. Gosto muito de tirar a homeopatia desse lugar abstrato que as pessoas colocam, de energia vital espiritual… Não é nada disso, é físico.

Existe um corpo físico, que cada corpo tem uma forma específica de reagir, porque cada ser é individual e único, e este corpo tende a reagir sempre de formas muito semelhantes, porque é da natureza desse corpo. Então, tem pessoas que tudo que reagem vem com uma certa agressividade. Quando ela tem uma infecção bacteriana, já faz pus, ela já faz úlceras. Ela destrói o próprio tecido para resolver um problema de uma bactéria que invade. É uma pessoa que tende mais a uma doença de natureza destrutiva. Se você observar as pessoas como um todo, cada um fica doente de uma mesma doença, mas de forma diferente. A homeopatia olha a sutileza dessa forma diferente.

Sabemos que uma característica marcante da homeopatia é a relação com a energia vital do corpo. O que seria isso exatamente? Como sabemos que nossa “energia vital” não está em equilíbrio?

É bem complexo falar de energia Vital e desequilíbrio da energia vital. Vamos começar entendendo que equilíbrio não é estático, equilíbrio é dinâmico. Então, a energia vital flui, é uma energia que faz parte da natureza imaterial do homem, aquilo que é abstrato. No século XIX, que foi o século em que se criou a homeopatia, quando Hahnemann começou a observar e tratar com homeopatia, por se tratar de um tratamento que não causava lesões como os tratamentos vigentes na época, ele começou a observar que o corpo, além de físico, existe uma coisa que é abstrata, que as religiões podem chamar de almas, espírito. Mas para nós, médicos, não é exatamente isso. É o ânimas, a energia que nos move.

Quando a gente diz “energia vital”, é aquilo que nos gera a vida. Aí você me pergunta, como saber quando está em desequilíbrio? Quando fica doente.

Vou citar de novo o exemplo de uma infecção: você pode passar na numa multidão de pessoas, que está todo mundo gripado, e você não ficar gripado; você passar e reagir àquele organismo porque a tua energia Vital está em equilíbrio, então, você não fica gripada. Você combate aquela infecção ou solta um pouquinho de secreção, fica com um pouco mais de sede, tem uma diarreia e teu organismo reage. Agora, se você passa por um ambiente contaminado e você fica extremamente doente, isso significa que a sua energia vital não estava em equilíbrio, então, aquele elemento externo entrou num ambiente desequilibrado e intensificou aquele desequilíbrio de acordo com a sua própria natureza de reagir.

Quais são as doenças mais bem sucedidas ao tratamento com homeopatia?

Todas, todas as doenças são tratadas pelo homeopatia. A questão é, exclusivamente, pelo homeopatia? E isso é uma discussão filosófica que existe entre os próprios homeopatas. Existem os mais puristas, que não usam nem antibiótico nem antitérmico, e existem os homeopatas mais pluralistas, que, sim, admitem que existe uma necessidade de utilizar os elementos terapêuticos disponíveis, dentre esses estou eu. Porque Hahnemann, o criador da homeopatia, colocava o tratamento que tinha que ser exclusivamente homeopático, que você tinha que desintoxicar a pessoa de qualquer outro tratamento que havia para que existisse o equilíbrio de uma energia Vital. Isso é uma idealização do tratamento homeopático, e eu não concordo com isso plenamente, principalmente porque eu olho dentro de um contexto. Quando Hahnemann fez a homeopatia e começou a utilizar, ele e seus colegas da época e nos anos subsequentes, nós estávamos no século XIX, outros tratamentos eram extremamente agressivos. As pessoas morriam da cura, e não da doença. O Arsenal terapêutico daquela época era terrível, então, realmente, não existia uma escolha. Hoje, não.

Hoje nós temos à disposição um arsenal terapêutico não tão danoso, e se eu entender que a pessoa tem um corpo físico que reage, a gente tem que tratar todas as partes do corpo, tanto a natureza material quanto a natureza imaterial. Eu, obviamente em uma infecção de garganta dou um antibiótico. Isso é básico. Mas eu trato também a pessoa, aquele desequilíbrio vital que fez com que ela reagisse tão mal àquela bactéria; que fez com que ela, mediante a um ambiente contaminado, pegasse aquela bactéria e aquela bactéria estivesse ‘fazendo a festa’ no organismo dela.

É assim que a gente trata. Falando de psiquiatria e homeopatia, existe um desequilíbrio celular, então, a gente tem que entrar com um remédio para isso o problema é: precisamos sedar a pessoa, entrar com remédios fortes demais? Não. A gente trata a pessoa e ao mesmo tempo a gente trata o organismo que está por trás dessa pessoa, que é ela também.

Quais são os métodos de tratamento mais utilizados na homeopatia?

O método de tratamento da homeopatia é sempre clínico. Você faz uma entrevista homeopática, que a gente conhece a pessoa como um todo, vê os medicamentos que ela está tomando; identifica quais são as doenças ambientais que ela está sendo submetida, os hábitos, e a gente escolhe um medicamento homeopático a partir daí. Tem homeopatas que administram o medicamento em dose única e observam, tem homeopatas que usam doses repetidas… Eu, particularmente, uso doses pequenas e repetidas, e vou observando, porque a psiquiatria tem um lugar diferente na homeopatia. A gente utiliza sempre doses repetidas, porque quando chega na doença mental, já está mais grave a doença hepática, então eu preciso sempre de doses repetidas. Mas o tratamento é clínico mesmo, tomar o remédio.

Como identificamos a necessidade de buscar a medicina tradicional ou a possibilidade de buscar um homeopata?

Bom aí é uma pergunta que eu vou ter que responder puxando a sardinha para o meu lado: sempre procurar a homeopatia. Não é quando, é sempre, porque a homeopatia faz parte. Ela te trata, trata o teu organismo. Vou citar um exemplo que aconteceu agora. Está tendo a epidemia de dengue. A gente sabe, qual é o agente, que é um arbovírus, mas existe toda sintomatologia da dengue, que foi diferente para cada pessoa. Por exemplo, em Joinville, a cidade inteira foi varrida pela dengue, e eu atendi várias pessoas que moravam numa mesma casa e uma pessoa não pegou dengue. Ora, o que que tem esse organismo? Ele não estava compatível com os sintomas da dengue. Então, o vírus passou por ele, ele matou o vírus e não ficou doente. Mas o que gera isso? Essa pessoa estava mais forte? Tava, pronto. Eu tratei todos pela homeopatia. A mesma coisa aconteceu com a covid. Muitas pessoas foram expostas, alguns chegaram a falecer, outros tiveram uma gripezinha, outros ficaram entubados. Isso porque o vírus era um só, mas o organismo tava em diversas fases de equilíbrio.

É sempre importante você entender aquele estímulo ambiental e resolver. Não é o estímulo ambiental que te deixa doente; é a tua reação ao estímulo ambiental.

Interessante quando você fala sobre as três principais doenças na homeopatia. Isso implica entender que todas as outras doenças partem dessas três? Como é essa relação?

Doença nada mais é do que uma forma de reagir a um agressor externo. Agora vou entrar mais na psiquiatria: você tem um agressor externo, mas pode reagir com uma ansiedade muito grande; pode reagir com uma depressão, se escondendo; você pode reagir se auto agredindo. O agressor externo está lá.

A gente vai tratar o ambiente, mas a forma como a pessoa reage individualiza ela dentro daquilo que está acontecendo. E é aí que homeopatia entra: a pessoa chega e diz ‘eu tô deprimida’, ‘eu tô triste’, ‘eu tô chorando’. Um psiquiatra comum, um psiquiatra clínico, escolheria um antidepressivo adequado tanto às reações físicas, mas o psiquiatra que trata também pela homeopatia procura saber da história de vida dessa pessoa.

Como é que o ambiente atuou na vida dela? Como ela reagiu? Para saber que doença fundamental ela tem com ela mesmo. Por exemplo, existem pessoas que a tudo reagem com muita ansiedade desde a infância; já se preocupam, já se desesperam e choram muito por qualquer coisa. Tem pessoas que desde pequena sempre reagem com agressividade, então elas enfrentam, batem de frente. Por isso que na consulta homeopática a gente pergunta como é que você era criança, quando foi a primeira vez que você percebeu que reage dessa forma. Você leva a pessoa a também perceber como ela reage, porque ali tá a nuance que vai trazer o diferencial. E aí você escolhe o medicamento que mais se assemelha àquela reação, e dá para pessoa.

A intenção e o objetivo da gente é que a pessoa entre em equilíbrio, pare de reagir dessa forma e passe a viver no momento presente. E das próximas vezes que ela tiver um estímulo ambiental, ela reaja de acordo com o estímulo ambiental que vem para ela. Mas isso é aos poucos.

+ Veja também: As curiosidades que todo paciente tem sobre os psicólogos

Pra ajudar a gente a visualizar a ação dos medicamentos homeopáticos, você poderia citar um exemplo e como ele age, organicamente ou fisicamente?

Bem simples. O princípio é muito semelhante ao da vacina. A vacina é um elemento semelhante que provoca uma doença e ensina o teu organismo a reagir quando a doença aparecer. A homeopatia é exatamente isso: você usa um medicamento semelhante, que provoca aquela intoxicação semelhante, que estimula a tua memória a reagir daquela forma. Vou usar um exemplo bem tranquilo, tipo, que é um medicamento homeopático comum conhecido por todos: a beladona. Quando as crianças tinham febre, dava gotas de Beladona. Mas, se você olhar a beladona, ela é um atropínico, que, se você der puro, ela causa uma febre, uma intoxicação igualzinha à febre. Quando você dilui dentro do método homeopático, você dá aquela beladona pra pessoa e ela estimula o organismo a reagir à febre. Então, ela combate a febre com a própria energia dela, em vez de suprimir a febre como a dipirona. Não é um elemento externo que está baixando a febre, é um elemento interno.

Aí você vai me perguntar assim: se sua filha estiver com febre, 40 graus de febre, você vai dar dipirona ou vai dar beladona? Depende. Eu fui pediatra há muitos anos, e eu não dava dipirona para todo mundo.

Primeiro, eu estimulava a pessoa reagir, com banho morno, para ver se baixa a febre sozinha. No caso, se não tiver baixando totalmente, aí, sim, eu daria gotas de beladona e esperaria um organismo reagir. Se o organismo não está reagindo ainda, aí eu posso dar umas gotinhas de dipirona para ela baixar um pouco a febre, porque começa a desnaturar as proteínas quando você tem uma febre muito alta. Mas eu continuo dando a beladona, para continuar estimulando aquele organismo a reagir. O princípio é o mesmo das vacinas.

Há quanto tempo a senhora está na AfroSaude? O que tem observado sobre as demandas de pacientes que chegam pra senhora por meio da plataforma?

Estou acho que há um ano, um ano e pouco. Está sendo muito legal. As demandas que eu recebo: muita depressão. Muita gente deprimida, e mais por uma agressão ambiental, realmente, em relação ao racismo. Agora, o que eu observo enquanto homeopata… Descrever isso para você vai ser bem desafiador para mim, porque a homeopatia lida com a memória da água, e existe a teoria da memória do corpo. A célula tem uma memória, teu gene tem uma memória ancestral.

O que eu vejo às vezes é uma memória bem forte da nossa ancestralidade. Tem pessoas que reagem de forma depressiva desproporcional, porque ela reage com a memória, não com o momento presente. E essa memória é tão abstrata que fazer com que a pessoa entenda que ela está reagindo desproporcional tem sido o meu trabalho.

Por exemplo, a pessoa recebe um insulto e reage de forma tão desproporcional que só tem uma explicação: a memória do corpo, que não tem nada a ver com que é o presente. Insultado a gente é o tempo inteiro, isso faz parte da vida. Mas a reação que eu tenho observado com os pacientes, às vezes, é um pouco desproporcional. Mas é desproporcional em termos. Primeiro, porque é uma agressão sucessiva, e dificulta muito separar o que é o momento presente e mais uma agressão. Além disso, tem é a memória do corpo, que aí você vai pedir para explicar e eu não vou conseguir ainda, porque isso é uma teoria que eu estou desenvolvendo, a memória genética.

Nós temos uma história muito pesada.

Então, essa memória genética que a gente traz, o gene, ainda está sendo desvendado na física e na psiquiatria. O gene traz a memória, está dentro do núcleo celular. Quando eu atendo pessoas com uma ancestralidade tão forte, eu tenho esse olhar, para que a pessoa não traga as agressões do passado para o presente, porque nós no presente já temos agressões suficientes, não precisamos das do passado. E é e esse é o desafio, o momento presente.

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